quarta-feira, 1 de junho de 2011

Os selvagens do voluntariado!

Sempre que penso em voluntariado, penso em pessoas altruístas que dedicam parte (muitas vezes grande parte) do seu tempo a ajudar aqueles que muitas vezes ninguem quer saber para nada.
Muitas vezes obrigadas a fazer o trabalho sujo da sociedade -cega, surda e muda - estas pessoas são munidas duma humildade fora de serie, ao ponto de serem sempre ilustres desconhecidos, mas cuja prioridade é ajudar o próximo.
No entanto, ao participar pela segunda vez numa das campanhas de recolha de alimentos do banco alimentar, vejo algumas coisas de maneira diferente.
Deve ser difícil coordenar centenas de pessoas de origens e com experiência de vida diferentes, num armazém enorme, cheio de vida própria, com toneladas de alimentos a serem despejados num tapete rolante para que um batalhão de formigas faça a sua separação. No entanto a experiência dos mais velhos, dos mais "batidos" nestas andanças, ajuda a por o barco em movimento. O modelo, no tapete, é simples. Despeja-se inicio do tapete e conforme os géneros vão passando, cada "apanhador" deve retirar o que lhe diz respeito, massa, arroz, açúcar, etc, para uma mesa,onde estão os "ensacadores" que fecham sacos plásticos mais ou menos normalizados para irem para uma palete.
É delicioso ver crianças a trabalhar como "gente grande", coisa que algumas nem sempre fariam, assim como ver a generalidade das pessoas a ajudar-se mutuamente.
Depois temos os "selvagens". Pessoas que devem fazer volutariado não para ajudar o próximo, mas apenas para se sentirem bem com as suas vidas miseráveis, ou até pior, para mostrar aos amigos e familiares que o fazem, sem qualquer sentimento de puro altruísmo. Não quero ser hipócrita ao ponto de dizer que não sinto uma realização pessoal com o que fiz e que não comente com amigos familiares o feito, nem que seja para dizer que raramente vejo o meu filho tão empenhado no que quer que seja, mas ali... até com a boca transportava pacotes de massa de tão cheias estarem as mãos e braços. Mas no final do dia, apenas quis dar uma ajuda. E empenhei-me!
Moral da história... Os tão famigerados actos de selvajaria são algo do género: imaginem que estão no dito tapete à espera das massas (e desta vez ate havia pouco que fazer), mas a pessoa que esta imediatamente antes de vocês, insatisfeita com os insucessos do dia-a-dia, apanha todos os pacotes que lhe passam pela frente, nem que os tenha que encastelar até queixo, como se de um concurso se tratasse. Com este impasse comecei a ficar de braços cruzados... só me restava ajudar a puxar o óleo para o meu lado do tapete, pois ajudava o meu vizinho do lado, o "apanhador" de óleo. Não... Não tive sorte... As garrafas de óleo era violentamente puxadas para o "nosso" lado e reboladas para o vizinha, para que eu nao lhes pudesse por a mão em cima.
Claro que, vendo o exemplo de todos os "apanhadores" dava sempre o meu "jeito" pessoal a cada garrafa que passava e às latas de salsicha que ia empurrando para o outro lado. Acho que quase todos os géneros eram mexidos por toda a gente, só para mostrar serviço.
Havia ainda enviados especiais. Agentes secretos que avançavam no tapete, ocupando outras zonas de "apanha", tirando do tapete as massas e afins para sacos plásticos que entretanto atiravam para cima da mesa dos "ensacadores". O meu filho era um desses agentes secretos, por iniciativa própria. Mas às crianças tudo se perdoa e são, de facto, uma delicia de ver a trabalhar.
Eu, tendo já desistido da "apanha", encontrava-me nessa mesma secção a preparar os sacos para empilhar na palete. Também não era fácil, pois a maior parte dos sacos vinha rasgado ou muito cheio, o que obrigava a retirar tudo desses sacos e a fazer de novo.
Claro que isto com uma melhor coordenação da responsável que lá estava, tudo funcionaria melhor. Para nós, e para os que eram perturbados por tais investidas no campo de batalha.
Mas tudo ia funcionando, até que chegou uma "generala", cheia de voz de comando e disse às pessoas o que elas precisavam ouvir, mas não o disse da maneira devida. Usou um autoritarismo excessivo e a disparar ordens em todos os sentido. Acabou... Os agentes secretos desistiram e eu, como operacional de campo, decidi também recolher à base, pois já o fim de semana ia longo com os afazeres familiares.
Isto prova que não basta ter razão... Também é preciso saber passar a mensagem... E a 4 dias das eleições para o Parlamento, temos sido confrontados com esta situação!